Deipnon (δεῖπνον)
Tradução e Correção: Priscila Ferreira e Elidia Martins
A principal refeição de gregos e romanos corresponde ao nosso jantar, o substituindo. Como as refeições nem sempre estão bem distintas, é conveniente dar um breve resumo de todos eles sob a presença do chefe.
Os materiais para relato das refeições gregas, durante o período clássico de Atenas e Esparta, são quase todos confinados a incidentais alusões a Platão e aos escritores cômicos. Muitos autores ancestrais, chamados δειπνολόγοι são mencionados pelo Athenaeus, mas, infelizmente, suas escrituras apenas sobreviveram em fragmentos. Seu grande trabalho, o Deipnosophistae, é um tesouro incomensurável deste tipo de conhecimento, alem de muito bem arranjado. Veja Athenaeus.
Os poemas de Homero contem uma figural real das antigas maneiras, em todo valor de atenção dos antiquários. Como eles se mantiveram fora de todos os outros escritos, é conveniente mostrar em um ponto de vista o estado das coisas que eles descreveram. Não deve ser esperado, no entanto, que as refeições homéricas devem concordar com os costumes do período. Athanaeus (i. 8), que entrou profundamente no assunto, observou a simplicidade dos banquetes homéricos, no qual os reis e homens privados partilhavam da mesma comida. Era comum para personagens reais prepararem sua própria refeição, e Odisseu (Od.xv. 322) se declarou não muito bom na arte culinária.
Três nomes de refeições ocorreram nas ilíadas e odisséia ἄριστον, δεῖπνον, δόρπον ou δόρπος -. A palavra ἄριστον uniformemente significa refeição matinal e δόρπον significa refeição da tarde, mas δεῖπνον, geralmente significando refeição do meio dia às vezes é usada no lugar de ἄριστον ( Od.xv. 397) ou mesmo δόρπον ( Od.xvii. 170). Nós devemos ter cuidado, no entanto, em como discutir a partir de hábitos não acertados de um campo para os costumes normais da vida.
Na era Homérica era normal sentar-se a mesa, e este costume, nos foi dito, foi mantido pelas eras históricas pelos cretenses. Cada convidado geralmente tinha sua própria mesa, e uma igualitária porção de comida era colocado na frente de cada um, exceto quando um convidado especial era honrado pegando uma porção maior. O que nos impressiona como peculiaridade nos jantares homéricos era seu caráter religioso. Eles participavam mais ou menos da natureza do sacrifício, começando oferecendo uma parte da comida aos deuses, e começando e encerrando com a libação de vinho, enquantoa os termos para animais para refeições comum (ἱερεύειν, θύειν) e para o abate dos animais (ἱερήϊα) para uma refeição das cerimônias religiosas. A descrição de jantar dada por Eumaeus na Odisséia ( Od.xiv. 420) nos da uma boa idéia de um jantar na era homérica na sociedade humilde, e a dada por Aquiles na Odisséia( Il.ix. 219 foll.) pode ser tomada como um banquete típico dos grandes no mesmo período.
Carne, carneiro, carnes suínas e de cabra eram os pratos comuns, geralmente comidos assados, às vezes cozidos ( Il.xxi. 363).. Peixes e aves eram quase desconhecidos (Eustath. ad Homer Od.xii. 330). Muitos tipos de vinhos são mencionados, notavelmente o Maronean e o Pramnian. Nestor tinha vinho onze anos (Homer Od.iii. 391).. Uma pequena quantidade era derramada no copo de cada convidado para fazer uma libação (ἐπαρξάμενοι δεπάεσσιν) antes de o vinho ser servido para degustação. Os convidados bebiam o vinho um do outro (Od.iii. 40) e uma segunda libação era feita para os deuses fecharem o repasto( Od.iii. 332).
Os gregos de uma era mais antiga geralmente partilhavam de três refeições, chamadas ἀκράτισμα, ἄριστον, e δεῖπνον. A última, que corresponde ao δόρπον dos poemas homéricos, era a refeição da tarde ou jantar, o ἄριστον era o almoço e a ἀκράτισμα que corresponde ao ἄριστον de Homero, era a refeição da manhã ou café da manhã. O ἀκράτισμα era feito logo de manhã (Aves, 1286). Ele é usualmente consistido de pão mergulhado em vinho sem mistura (ἄκρατος), donde derivou seu nome (Athen. i. 11).
Depois era seguida pelo ἄριστον ou almoço. A hora que estas eram tomadas é incerta, daí podemos concluir a partir de muitas circunstancias que era ao redor do meio dia, e correspondia ao prandium romano. À hora do mercado, o qual as provisões pareciam ter sido compradas pro ἄριστον, era das nove da manhã ate o meio dia. Em Aristófanes ( Vesp.605-612) Philocleon descreve o prazer de retornar pra casa depois de atender os tribunais, e partilhar de uma boa ἄριστον. Geralmente era uma refeição simples, mas claro variava de acordo com os hábitos de cada individuo (Oecon.xi. 18).
A principal refeição, contudo, era a δεῖπνον. Era geralmente tomada um pouco mais tarde no dia, freqüentemente não antes do por do sol (Lysias, de Caed. Eratosth. 22).
Os atenienses eram um povo sociável, e eram grandes apreciadores de jantar em companhia. Entretenimentos eram geralmente dados, ambos da era heróica e tempos mais antigos, quando os sacrifícios eram oferecidos aos deuses, tanto em publica quanto em situações privadas, e também no aniversario de membros da família, ou para pessoas ilustres, estando vivas ou mortas. Plutarco ( Symp.viii. 1. 1) fala de um entretenimento que era dado no aniversario de nascimento de Sócrates e Platão.
Clubes de jantares eram bem comuns, os membros de cada um contribuiam com certa soma, chamada συμβολή, ou traziam suas próprias provisões. Quando o primeiro plano era adotado, eles diziam ἀπὸ συμβολῶν δειπνεῖν e um individuo era geralmente encarregado com o dinheiro para comprar as provisões e fazer todas as preparações necessárias (Terence, Eunuch. iii. 4). Quando o segundo plano era adotado, eles diziam ἀπὸ σπυρίδος δειπνεῖν, porque as provisões eram trazidas em cestas. Este tipo de entretenimento era falado por Xenophon ( Mem.iii. 14. 1). Em Homero a palavra ἔρανος correspondia com o antigo ἀπὸ συμβολῶν δεῖπνον, enquanto εἰλαπίνη denota um entretenimento publico tal como um festival (Athen. viii. 362 e).
O tipo de entretenimento mais comum, contudo, era aquele em que uma pessoa convida seus amigos para sua própria casa. Era esperado que eles devessem vir vestidos com maior cuidado, e também banhados logo antes, por isso, quando Sócrates ia para um entretenimento em Agathon, dizia-se que ele se lavava e colocava os sapatos – coisas que ele raramente fazia (Plato, Symp.174A). Assim que o convidado chegava à casa de seu anfitrião, seus sapatos ou sandálias eram tirados pelos escravos e seus pés lavados (ὑπολύειν e ἀπονίζειν). Em trabalhos ancestrais de arte freqüentemente se vê um escravo ou outra pessoa no ato de tirar os sapatos dos convidados, o qual um exemplo é dado na próxima pagina de uma terra-cota no museu britânico. Depois de seus pés serem lavados, os convidados se reclinavam em κλῖναι ou sofás.
Sentar nas refeições era como já foi observado, a prática da era heróica, mas no período clássico era confinada a Creta. Mulheres, no entanto, quando admitidas nos banquetes em extraordinária ocasiões, como um casamento (para eles eram geralmente excluídas da mesa quando convidadas), tomavam a postura de sentar (Lucian, Conv.13) e também as crianças( Symp.i. 8).. Uma representação muito comum de um monumento funerário é a refeição em família, com o marido reclinando, e a mulher e as crianças sentadas ao seu lado. Onde mulheres eram representadas reclinadas numa refeição, significava por Hetaerae.
Era comum para apenas duas pessoas reclinarem em cada sofá. Nos trabalhos ancestrais de arte nós normalmente vemos convidados representados desta maneira, mas às vezes tem um numero grande em um grande κλίνη. Os convidados reclinados com seus braços esquerdos em travesseiros listrados e com seus braços direitos livres. (Cf. Aristoph. Vesp.1210.)
Depois dos convidados terem se colocado no κλῖναι, os escravos traziam água para lavar suas mãos, e ai o jantar era servido, a expressão para isso era τὰς τραπέζας εἰσφέρειν ( Suet. Vesp.1216). Por τὰς τραπέζας εἰσφέρειν podemos entender não meramente os pratos, mas as mesas eram colocadas para eles (Philoxen. ap. Athen. iv. 146 f).. Parecia que uma mesa, com provisões em cima dela, era colocada diante de cada κλίνη: e deste modo nós encontramos todos os trabalhos ancestrais de arte representando um banquete ou simpósio, uma pequena mesa ou trípode colocada perante o κλίνη: e quando tem mais de duas pessoas no κλίνη, varias dessas mesas. Estas mesas eram evidentemente pequenas o bastante para serem movidas com facilidade.
Pra comer, os gregos não tinham facas ou garfos, usavam seus dedos somente, exceto para comer sopas e outros líquidos, o qual eles partilhavam através de uma espécie de colher (μύστρον) ou pedaço de pão no formato de uma colher (μυστίλη) (Suidas, s. v. μυστίλη). Depois de comer, eles varriam seus dedos em pedaços de pão, chamado ἀπομαγδαλιαί, e depois atiravam aos cachorros (Aristoph. Eq.415). Napkins (χειρόμακτρα) não eram comuns ate o período romano.
Parece que a arrumação do jantar era confiada a certos escravos. Aquele que tinha um chefe gerenciando era chamado τραπεζοποιός ou τραπεζοκόμος (Athen. iv. 170 e; Pollux, iii. 41; vi. 13). A palavra grega para menu era γραμματίδιον (Athen. ii. 49 d).
Geralmente excedia-se o limite deste trabalho dar uma olhada na variedade de pratos que foram introduzidos ao jantar grego, embora seu número seja bem menor daqueles que usualmente eram partilhados nos entretenimentos romanos. A comida mais comum entre os gregos era a μάζα, uma espécie de bolo leve, que era preparado de diferentes maneiras, como aparece com vários nomes (Pollux, vi. 76). A φυστὴ μάζα, o qual Philocleon partilha retornando pra sua casa dos tribunais ( Suet. Vesp.610), é dita pelos Scholiast feita de cevada e vinho. O μάζα continuado desde os tempos mais antigos é a comida mais comum das classes mais baixas. Pão de trigo ou cevada era o segundo tipo mais comum de comida, às vezes era feito em casa, mas mais comumente comprada no mercado. Os vegetais geralmente comidos eram malva (μαλάχη), alface (θρίδαξ), couve (ῥάφανοι), ervilha (κύαμοι), lentilha (φακαῖ). Porco era a principal carne, também entre os romanos. Salsichas também eram comuns. É um fato curioso, o qual Platão (Rep.iii. 13 Rep., 404) observou, que nunca se leu que Homero ou os heróis comiam peixe. Em tempos mais antigos, contudo, peixe era uma das comidas preferidas dos gregos, tanto que o nome da ὄψον era aplicada pra κατ ἐξοχήν. Alguns nomes dos peixes que os gregos costumavam comer são dados no final do sétimo livro do Athenaeus, organizado em ordem alfabética.
A refeição comum das famílias era cozida pela governanta da casa, ou por uma escrava sob a direção dela, mas para ocasiões especiais cozinheiros (μάγειροι) eram contratados, dos quais parecia haver um grande numero ( Diog. Laert.ii. 72). Eles eram freqüentemente mencionados em fragmentos de poetas cômicos, e aqueles que eram conhecidos com todo o refinamento de sua arte eram requeridos em grande demanda em outras partes da Grécia. Os cozinheiros sicilianos, no entanto, tinham a melhor reputação, e um livro siciliano de culinária Mithaecus é mencionado por Platão, mas o mais celebrado trabalho deste assunto é o Γαστρολογία de Archestratus (Athen. iii. 104 b).
Um jantar dado por um opulento ateniense usualmente consistia de dois pratos, chamados respectivamente de πρῶται τράπεζαι e δεύτεραι τράπεζαι. Pollux (vi. 83), de fato, falando de três pratos, que era o numero em um jantar romano, e do mesmo modo nós encontramos outros escritores do império romano falando de três pratos nos jantares gregos, mas antes da conquista da Grécia por Roma e a introdução dos costumes romanos, nós lemos sobre dois pratos apenas. O primeiro prato era propriamente o que entendemos como jantar, peixe, carne, etc (ἐδέσματα), o segundo que correspondia a sobremesa e a bellaria romana, consistia de diferentes tipos de frutas, carnes doces, confeitos, etc (τρωγάλια). O primeiro prato romano eram saladas, vegetais, etc, e era desconhecido pelos gregos no tempo de sua independência.
Quando o primeiro prato era terminado, as mesas eram retiradas (αἴρειν, ἐκφέρειν, βαστάζειν τὰς τραπέζας) e água era dada aos convidados com o propósito destes lavarem as mãos. Coroas feitas de guirlandas de flores também eram dadas a eles, com vários tipos de perfumes. Vinho não era bebido ate que o primeiro prato fosse terminado, mas assim que os convidados lavavam as mãos, um vinho misturado era produzido numa mesa grande, chamada μετάνιπτρον ou μετανιπτρίς e cada um bebia um litro, depois de derramada uma pequena quantidade na libação. Esta libação era dita para trazer um bom espírito (ἀγαθοῦδαίμονος), e era geralmente acompanhada com a canção de um hino e flautas tocando. Depois desta libação vinho misturado era trazido, e com seu primeiro copo o convidado bebia a Ζεὺς Σωτήρ ( Symp.ii. 1). Com o σπονδαί e o δεῖπνον fechados, e com a introdução da sobremesa (δεύτεραι τράπεζαι), o πότος, συμπόσιον, ou κῶμος iniciavam o qual um resumo é dado no artigo Simpósio.