quarta-feira, 25 de março de 2009

Bem vinda a nova vida!

Hoje me sinto lisonjeada, pois este mês que logo se acaba na lua nova (Elaphebolian) começou com um sonho na Noumenia, onde eu bebia a água de um caldeirão enquanto recitava o Hino Homérico a Apolo. Elaphebolion foi para mim um mês de “morte”, de introspecção, de um buscar espiritual maior que em qualquer outro momento da minha vida. Lembro-me que no começo do mês eu me queixava, pois após ter sonhado com a “Morte” como um ser encarnado, fiquei temerosa de que esse mês seria um mês daqueles que todo mundo quer fugir.
O que eu não compreendia era o surgimento tão forte de Dionísio em minha vida de uma hora para a outra. Como sou muito nova nesse caminho, muitas coisas me eram incompreensíveis (e creio que ainda o são) e eu ainda tinha muito que entender e saber. No inicio da Cidade Dionisíaca, acordei repetindo em minha mente o nome Zagreu de Dionísio e ao ver o que significava, no português claro e chulo, eu soltei um sonoro e triste “fodeu”. Fui vendo minha vida se despedaçando, tudo parecia turbulento e confuso. Os sonhos não paravam, mas eu não os entendia, tudo o que eu pensava em minha mente era: “Os deuses estão ferindo, talvez me lapidando e não sei por que pago tão alto preço”.
Hoje estudando um pouco mais o Helenismo, me deparei com a simbologia de beber Dionísio no caldeirão: “Em outra versão do mito, Dionísio (Zagreu) é filho de Zeus e da deusa Perséfone, Rainha do Submundo. Hera pediu aos titãs para atrair a criança com brinquedos e então eles o despedaçaram, colocando-o em um caldeirão e comendo tudo exceto o seu coração, que foi salvo por Atena (ou Deméter, em outras versões). Zeus refez seu filho através desse coração e o deu a Semele para fazer um novo Dionísio, o mesmo que reaparece em Elêusis como Iaco. Por isso, ele é chamado “duas vezes nascido” ou “o de duplo nascimento” (Dio-nísio)”. -
Dionísio e seu Renascimento.
Como entendo que minha vida cotidiana é puro reflexo de minha vida espiritual, vejo que não é de se estranhar que enquanto estou sendo espiritualmente devorada pelos titãs para depois renascer, minha vida também é devorada para também renascer. O que faz todo sentido agora ao me lembrar que neste mês fiquei paralisada diante de um texto de minha amiga helênica e minha reflexão sobre ele, sobre ser ferida pelos deuses para aprender curar (Quíron). Não obstante é necessário morrer para renascer (iniciação).
Já na semana da próxima Noumenia (de Mounykhion [Daisios]) sonho com a encruzilhada, onde eu observo fogos de artifícios que eu mesma havia feito admirada com sua beleza e que entre vários desenhos, desenham um rio cheio de peixinhos. Acordei animada, havia uma mensagem em minha mente de que eu veria beleza em meus esforços e sendo a encruzilhada pertencente ao caminho, Hermes e Hécate, não seria de se admirar que eu ficasse animada esperando as boas novas do mensageiro dos deuses, como as bênçãos e sabedoria da Trioditis.
Isso explica porque grudei em Dionísio como uma criança assustada durante a noite agarrada ao seu ursinho de pelúcia. Guiada e instruída intuitivamente pelos deuses, fui adentrando esse caminho e abrindo-me para conhecer sem deixar que minha pouca disposição e indisciplina prejudicassem o andar da carruagem. Embora vivendo momentos de profundo desespero e dor, em meio a tantos acontecimentos difíceis, xingando e reclamando vezes ou outras, não deixei sequer por um momento de honrar e cultuar meus deuses. Então, se houve algum tipo de prova, não creio que eu tenha falhado.
Esse entendimento todo surgiu hoje, pois em meio a um momento difícil durante meu dia, me agarrei novamente as minhas preces a Dionísio, pedindo para que eu não caísse ou sofresse novamente, despertando em mim o desejo de viver alegremente a minha vida independente das coisas que acontecem ao redor. Mas, o que mais chamou atenção, principalmente durante essa semana, foi o pensamento obsessivo e a admiração de Dionísio pela sua história de buscar o reconhecimento como um Deus filho de Zeus. Reconhecimento foi além das palavras “entusiasmo" e "libertação” o que mais me chamou a atenção em Dionísio. Partindo do pressuposto de que estou intuindo todo esse processo realizado pelos Deuses e de minha disciplina no culto, basicamente a palavra reconhecimento é uma de minhas vitórias nesse caminho.
Novamente retornando ao meu sonho com a encruzilhada, a impressão que tenho é de receber a mensagem dos deuses dizendo: “Está pronta, pode percorrer agora o caminho”. É como que pudesse dizer que me tornei verdadeiramente Helênica na Noumenia de Elaphebolion de 2009 da era comum. Mesmo estudando sobre isso desde outubro do ano passado, mas tendo agora a certeza em meu coração de que sou “reconhecida” como filha de Zeus (Xaire, Dionísio). Sinto isso como se ouvisse as vozes dos Deuses Antigos me dizendo: “Bem vinda a sua nova vida!”

2 comentários:

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  2. Amiga, beber a água do caldeirão me lembrou que Pausanias, na descrição da Grécia, conta de um santuário onde iam as pessoas que estavam sofrendo muito. Parte do ritual do oráculo de Trophonios na Beócia era com o suplicante sendo levado pelos sacerdotes, não direto ao oráculo mas sim a fontes de água que ficavam uma perto da outra. Ali ele deveria beber a água do Lethe (esquecimento) se quisesse esquecer tudo o que ele vinha pensando até agora, e depois beber de outra água, da Mnemosyne (memória), que lhe fazia lembrar o que ele visse depois de sua descida. Depois que ele subia do oráculo de Trophonios, o demandante era levado de novo pela mão pelos sacerdotes, que o colocavam em uma cadeira de Mnemosyne, que não ficava longe do santuário, e lhe perguntavam, quando sentado ali, tudo o que ele tinha visto ou aprendido. Depois de obter a informação, eles então o entregavam aos cuidados de seus parentes, que o erguiam (pois estava paralisado de terror e inconsciente tanto de si quanto de seus arredores), e o carregavam até o prédio onde ele ficava alojado diante de Tykhe (fortuna) e do Agathos Daimon (bom espírito). Depois disso, porém, ele recuperava todas as suas faculdades e a capacidade de rir voltaria a ele.

    Apolo é deus oracular, você precisava esquecer certos pensamentos e lembrar apenas do contato com os deuses para poder voltar a sorrir de novo.

    Bem-vinda de volta, e reconstituída! ;)

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