quarta-feira, 18 de março de 2009

Cante pelos bosques!

Dionísio, deus do êxtase e do
entusiasmo, levava com seu cortejo alegria e felicidade por toda a Grécia onde
também era considerado protetor das belas artes.

“Ele ouve e considera tudo; nem sequer um discurso,
nenhum choro, nem barulho, nem voz nefasta escapa do ouvido de Zeus” – Hino
Órfico

O único meio de comunicação que eu tenho com os deuses, exceto em casos raros que os escuto quando estou desperta, é através de sonhos. De todo modo hoje foi um daqueles dias difíceis. Como algumas pessoas sabem, não estou em um dos meus melhores momentos, estou atravessando aquela fase insegura da mudança, como alguém que entra em seu barquinho e tenta atravessar o rio de uma margem a outra. Só que há dias sinto que eu estou parada no meio do rio e isso me deixa muito triste, não somente com a situação, mas em especial comigo mesma.
Vivendo ao longo desses anos, eu descobri que sempre há aquele momento em que perdemos nossas forças, em que estamos tão confusos ou tão inseridos dentro de nossos dramas emocionais ou simplesmente mentais, que não conseguimos nos reconhecer, que perdemos total e completa noção de quem nós somos. Os momentos de intensa dor ou de desespero são comuns a todos nós que caminhamos sob o sol, ninguém está livre disso. Não importa o que faça você perder o sono ou dormir demais (fuga), importa que sempre haverá momentos em que somos abatidos pela tristeza e a duvida e vejo que são nesses momentos que os deuses fazem o trabalho deles.
Enquanto temos forças para seguir e reagir, os deuses vão nos guiando e aconselhando pacientemente, mas naquele momento em que nos encontramos despedaçados, em que não vemos uma saída, em que não conseguimos seguir por mais que q1ueremos, ou que caímos sobre nossos joelhos de pura exaustão, então os deuses vêm para nos levantar pelas mãos e nos mostrar que não estamos sozinhos e que tampouco fomos por eles abandonados e nos mostram que em nenhum momento em nosso caminho, por mais difícil que esse pareça, eles nos deixaram sozinhos sequer por um segundo. Mesmo aquela prece que proferimos e que nem sentimos nada demais escapou dos ouvidos dos deuses.
Foi uma dessas preces dolorosas e sinceras que eu fiz durante a manhã, aquela em que descarregamos toda a nossa carga emocional, em que proferimos sinceramente que se estamos pedindo por ajuda é porque não sabemos mais o que fazer, ou como fazer ou estamos tão cansados que mesmo sabendo o que fazer não conseguimos nos mover. Eu estou nesse momento em que não posso ficar, mas também eu não consigo seguir. Mais nenhum humano no mundo poderia fazer isso por mim e foi com um sincero apelo que eu disse: “Os Deuses têm me ajudado em tudo o que tenho pedido. Por que não me ajudam nesse quesito? Por que não fazem por mim o que mais ninguém nesse mundo e tampouco eu estou conseguindo fazer? Não importa o que façam, eu só quero me ver livre desse sofrimento!”.
Eu acordei com uma forte tempestade caindo, os trovões eram tão altos que tremiam as paredes de casa, São Paulo inteira já estava debaixo d’água e a lembrança de meu sonho, onde após uma lição sobre aprender a guerrear no inverno, eu entrava em casa cantando para Zeus e Dionisio. Uma experiência mística, que me trouxe certezas e não fé, porque eu particularmente não gosto da palavra fé, fé me parece sugerir que acreditamos em algo que está distante. A minha experiência hoje vai além disso, eu tenho certeza, tenho confiança em meus deuses, não como algo distante, mas como Pai e Irmão que estiveram comigo me ouvindo naquele momento em que eu mais precisava ser ouvida e a confiança de sustenção como que se o próprio Zeus tivesse sussurrado em meu ouvido num abraço: “Fique tranquila, nós daremos um jeito nisso”. Como minha amiga helenica me disse sabiamente, enquanto estamos aqui insanamente sofrendo, Zeus está lá em cima já sabendo de tudo o que nos aconteceu e o que nos acontecerá.
Foi exatamente essa certeza que me inspirou escrever um post onde eu me coloco de maneira vulnerável e fragilizada, mas perfeitamente humana. Essa é uma forma de agradecimento, de dizer para os outros sinceramente que não importa os momentos pelos quais passamos, nossa capacidade ou a falta dela, nossos desejos ou tentações (tentação no sentido de desejar algo para se livrar do sofrimento e conseqüente crescimento que esse nos traz, porque é muito fácil desejar não sofrer e viver num ilusório mar de rosas, mas sofrer [não como um modo de purificação] nos impulsiona a mudar e nos transformar) que nós podemos contar com um poder superior que nos traz força para continuar e prosseguir em nosso caminho. Entenda, não posso acreditar em deuses que não riem e que não dançam, como também não posso acreditar em deuses que repudiam nossa humanidade.
Tenho plena confiança que em breve estarei escrevendo mensagens mais animadas e alegres, porque logo estarei dançando pelos bosques com Dionisio e espalhando por aí toda alegria e embriagues divina. E orgulhosa de saber que eu irei realmente fazer jus as palavras que eu escrevo, como profetisa que sou [Xaire, Apolo! Teu dom, tua dádiva!]. E assim provaremos eu e minha amiga helenica (e quem mais os deuses quiserem), como nossas cadelas negras anunciaram, a nossa primavera. Então, que venha!

Um comentário:

  1. Provaremos sim! ;D

    "Sempre há alguma loucura no amor. Mas sempre há algum método na loucura.
    Eu só acredito em um Deus que saiba como dançar.
    (...)
    Agora eu sou luz, agora eu posso voar; agora eu me vejo por trás de mim mesmo. Agora dançou um Deus em mim."
    (Nietzsche, 'Assim Falou Zarathustra')

    =*

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